quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Elasticidade

Taí uma coisa que eu não tenho: elasticidade. Já fiz ballet na infância, na adolescência e agora, depois de adulta. Em todas essas fases, o meu desafio sempre foi fazer aquelas manobras e aberturas que muitas fazem com pouco tempo de aquecimento.

Nunca tive problema com ritmo, com a memorização da coreografia e acho até que tenho uma boa postura. Mas meu sonho sempre foi fazer aqueeeeeela abertura.

Foto by Jordan Matter
Essa foto foi uma das que me inspirou a escrever sobre isso. O fotógrafo americano Jordan Matter fez uma série de cliks com pessoas altamente elásticas. Claro que eu morri de inveja de todas essas acrobacias. Mas fora isso, o trabalho é bem interessante. E ainda me despertou a vontade de alongar beeeeeem muito.

Tem mais aqui para quem quiser conferir.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

No amor e na dor

Eu sempre tive uma visão romântica do ballet. Observava as bailarinas clássicas e sua desenvoltura no palco, sua leveza e serenidade, tudo na ponta do pé, e ficava impressionada com tanta maestria. Aquilo me encantava tanto, que não parava para pensar na parte dolorosa daquela arte: para chegar naquele ponto, ela teve que treinar muuuito.
Voltei a fazer balé depois de adulta, alimentando o mesmo sonho de menina: subir na ponta dos pés e fazer outros sonharem com a minha emoção no ballet. Mas, a realidade é outra.
Há duas semanas tive minhas primeiras aulas de ponta. Pensem na minha alegria quando comprei aquele par de "partner estudante" (tipo de sapatilha indicada para iniciantes). Ele brilhava diante dos meus olhos. Eu finalmente subiria na ponta, coisa que eu nunca consegui fazer durante as minhas fases de ballet, interropidas pelas circunstâncias da vida. Estava muito feliz com aquilo. Até collant novo e meia nova comprei para não fazer feio.



Mas eu fiz feio!
Foi extremamente sofrida a minha primeira aula. Meus dedos, já nem sentia mais com tanta dor. Ponteira até usei, mas parecia que elas não estavam ali. Gente, admiro ainda mais as bailarinas profissionais. Suei feito tampa de chaleira. A minha colega de barra até tentou me dar uma força: "Bora, não queria tanto subir na ponta?!". Ainda quero, minha filha, só preciso me acostumar com a dor. É tudo psicológico!!

Fui até o fim da aula. No outro dia, parecia que eu tinha feito 200 abdominais. Os dedos, intactos. Valeu a pena perder tantas calorias.
Enfim, minhas queridas bailarinas adultas. Ballet continua sendo um sonho pra mim, mas eu pretendo ir mais longe, com dor e tudo. Me aguardem nos palcos!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Ciranda da Bailarina (Adulta)


Ciranda da Bailarina (Chico Buarque e Edu Lobo)

Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Berruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem


Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem


Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem


Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem


O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem


Procurando bem
Todo mundo tem...


Procurando bem, na ciranda da bailarina adulta, seu mundo não é tão perfeitinho
como na música.
Ela tem marido, noivo ou namorado;
Tem filhos ou filhas bailarinas;
Tem contas para pagar no fim do mês; dívidas ou financiamento de carro;
Tem chefe estressado, entrevista de emprego ou trabalho da pós.
Mas pensando bem, o que a bailarina adulta não tem é medo de enfrentar
o desafio de tentar.

sábado, 25 de junho de 2011

A bailarina adulta


Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
(Bailarina, de Cecília Meireles)

Ela cresceu. Chega de salto alto, maquiada ou toda formal. Vem do cursinho, da faculdade, do estágio ou da empresa. Veste seu collant G ou GG e em minutos está pronta aquela que não desistiu do sonho do ballet.

A bailarina adulta* é aquela que conheceu o ballet na infância e/ou adolescência e por vários motivos não deu continuidade. Mas depois de adulta voltou a praticar, voltou a sonhar com a ponta dos pés.

Mas é também aquela que nunca fez ballet e resolveu arriscar depois de grande. Seja por influência da filha, da mídia, indicação médica ou para realizar um sonho antigo.

Seja como for, esta menina no corpo de mulher continua querendo ser bailarina. E aqui neste espaço eu pretendo compartilhar esse sonho, os desafios, as conquistas e mostrar que é possível, apesar da idade, do peso, da pouco elasticidade, ser uma bailarina (adulta).

* Que me perdoem os renomados profissionais, mas neste blog vou chamar toda e qualquer menina grande que faça ballet de bailarina adulta.